quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Pé na estrada - Diário Dez

No início deste mês, o Diário de S. Paulo entrevistou mulheres que resolveram jogar tudo pro alto e sair pelo mundo em um ano sabático. A entrevista, publicada na revista Diário Dez (e matéria de capa), contou com as experiências vividas por Carol Wieser, Cecília Gontijo, Marcela Centofanti e até mesmo esta Publicitária & Viajante que vos fala!
Com arquivos deliberadamente surrupiados da colega blogueira e mamãe-do-ano Carol Wieser (valeu!), reproduzo aqui a entrevista página por página - basta clicar em cada imagem para que elas aumentem.
Quem preferir pode ler a versão resumida disponível site do jornal clicando aqui.


segunda-feira, 25 de outubro de 2010

18ª Feria Municipal del Libro Antiguo y de Ocasión

Para quem, como eu, acha que cultura pouca é bobagem: além de ser um eterno museu a céu aberto, de sempre em sempre a cidade espanhola de Salamanca oferece novas oportunidades de enriquecer nosso repertório cultural. A bola da vez é a 18ª Feria Municipal del Libro Antiguo y de Ocasión, que estará hospedada na Plaza Mayor da cidade de 23 a de outubro a 7 de novembro.
Participam do evento vinte livrarias de todo o país (somente cinco da própria cidade), que prometem ofertas para quem quiser renovar o estoque de obras e procurar pequenas relíquias escritas. Além disso, o evento conta com um amplo programa de atividades culturais, incluindo treze apresentações musicais, três teatrais, exposição de fotografias e ciclo de conferências sobre o papel do livreiro de obras antigas.
As livrarias estarão abertas ao público diariamente das 11 às 14h e das 17h30 às 21h (cada período se prolonga por meia hora aos finais de semana e feriados).
Não perca!
Veja mais detalhes da programação aqui.

sábado, 2 de outubro de 2010

Kronika Donostiarra (ou "Causo de San Sebastián")

Era sábado à noite, e éramos um casal despreocupado passeando pelas ruas do centro de San Sebastián e exercitando um dos esportes mais espanhóis: "ir de pintxos", ou seja, ir de bar em bar tomando uma bebida e uma comidinha. Os pintxos da cidade são muito famosos, e não sem motivo: com ingredientes dignos de um restaurante nouvelle cuisine e um mais lindo que o outro, deixam qualquer um com água na boca só de olhar.
Mas, como ali a beleza é diretamente proporcional ao preço, depois de uns dois pintxitos já passamos a seguir a nossa rota gastronômica passou a ser somente enófila, já que os "chikitos" (doses de vinho jovem servidas em copos de boca larga, típicos de sidra, por exemplo) custavam baratinho, entre €0,50 e €1,00 (normalmente, primeiro valor se vão com a sua cara, o segundo se não - como nunca tem cardápio de bebida e ninguém pergunta antes de pedir, você só descobre na hora de pagar - mas ainda assim, continua sendo barato). Na verdade, eu que nunca me senti menosprezada por ser gringa, ali me sentia um pouco não por não não ser espanhola, mas por não ser basca, como contei aqui - mas nada que me fizesse perder a noite, claro. 
Quando você decide passear de bar em bar em uma cidade desconhecida, normalmente o critério de decisão de onde entrar ou não é a cara do bar; no nosso caso, buscávamos lugares que parecessem simples (se é só pra tomar um vinhozinho, não tem problema ser biboca, né?) e pouco turistóides. 
Minha vez de escolher, olho um barzinho cheio de gente com pinta de desencanada. "Vamos!"
Entramos. 
Gelei.
O que o de fora era um bar cheio de gente (inclusive duas famílias sentadas em mesas), visto de dentro, era o lugar mais pró-independência basca que eu já tinha visto na vida. Absolutamente tudo escrito em euskera e  paredes cheias de cartazes independentistas; acima do balcão, uma série de fotos tamanho A4 de rostos com os olhos tapados por um retângulo negro; ao lado do garçom, um enorme pote de vidro para arrecadação de colaborações para, dentro da minha compreensão totalmente limitada de basco, "liberação de companheiros presos".
Como sair parecia pior do que atuar normalmente, fomos para o balcão e pedimos dois vinhos tintos. Primeiro gole, pego um guardanapo, que ao invés do tradicional "esquerrik asko" ("muito obrigado") leva estampado um mapa dessa região autônoma espanhola com setas indicando o interior, seguidos pela frase "maite zaituztegu" ("amamos vocês", em basco, muitas vezes usado como expressão de apoio aos extremistas). Discretamente, peguei alguns e guardei na bolsa, como souvenir. Falando em souvenir, na prateleira à minha frente, todo tipo de produtos à venda com slogans nacionalistas bascos, bandeiras, bonés, canecas, adesivos... 
"Ai que vontade de tirar uma foto!", suspirei.
"Nem pensar! Depois você que procure na internet. Termina esse vinho e vamos!", respondeu meu namorado entre dentes.
Pagamos os dois euros devidos, saímos. Olhei a fachada do bar, tentando guardar na memória - ainda estava sendo olhada demais para tirar uma foto. 
Sim, existe outro país no norte da Espanha, e o nome dele é Donostia, ou País Basco. A comida é ótima e as cidades são lindas, mas o nacionalismo extremado, visto de perto, dá medo.


P.S.:
Há algumas semanas, o ETA, organização separatista basca, veio a público com uma vídeo-mensagem em que, debaixo dos tradicionais capuzes, afirmavam estar em um período de suspensão das ações armadas; no domingo passado, foi divulgada uma carta enviada pelos mesmos aos signatários da Declaração de Bruxelas, afirmando estarem dispostos s "estudar juntos" medidas que poderiam ser adotadas para alcançar a democracia na região.    Infelizmente, não parece digno de credibilidade - apenas uma tentativa de ganhar abertura política em um período pré-eleitoral, principalmente por não fazer nenhuma referência prática a um verdadeiro cessar-fogo -  as palavras foram totalmente desmentidas quando a polícia espanhola encontrou material de treinamento em armas de fogo para membros da organização.
Até quando, Euskadi? Somos todos feitos da mesma carne e sangue.


Paz.