terça-feira, 25 de maio de 2010

Crônica Salmantina


- Como assim você não vai entrar?

O tiozinho da bilheteria parecia inconformado. Eu, que já tinha passado seis meses morando na Espanha e tinha decidido voltar a viver em Salamanca, estava em contenção de despesas e pensando seriamente em economizar os euritos da entrada do Convento de San Esteban. O homem insistia:

- E vai deixar ele entrar sozinho?

Era meu irmão, que tinha vindo do Brasil passar duas semanas comigo, e me encarou como dizendo “você é quem sabe”. Eu já tinha visitado o convento dois anos antes, e tinha adorado; sou fã incondicional de museus e outros lugares com uma boa história por detrás. Mas tinha me demitido do meu trabalho no Brasil e passado um mês na Itália, o que obstruía um pouco as finanças. E estava morrendo de vontade de no fim do dia tomar um vinho com pincho em um dos bares da calle Van Dyck. Aquele era um dia de pouco movimiento e, com seu olhar inocente, o porteiro continuou:

- Pode entrar com ele, não tem problema.

Opa, grátis? Fui.

E como valia a pena revisitar aquele lugar. Depois de mais de cem anos sendo construido, em 1630 Salamanca ganhou o atual edificio do Convento de San Esteban, no local onde no século XIII os dominicanos tinham se instalado na cidade, e onde Cristóvão Colombo foi pedir a ajuda dos frades para conseguir financiamento para sua viagem às Índias. Era começo de tarde, e o edificio estava quase dourado quando tocado pela luz do sol.

Entramos.

Começamos pela minha parte preferida, o Claustro de los Reyes, e outra vez adorei ver o céu de dentro daquela construção gótico-renascentista, assim como buscar uma a uma as expressões nas gárgulas e outros seres semi-assustadores esculpidos nas paredes, teoricamente para afastar os maus espíritos. E prosseguimos esquadrinhando cada centímetro daquele patrimônio histórico. Como não querer entrar sala por sala vendo as exposições? Como não se deslumbrar com o brilho do altar daquela igreja?

Ao final da visita, dediquei o sonriso mais sincero para aquele senhor da entrada. Graças a ele, eu tinha ganhado a tarde.

2 comentários:

Mari Campos - Pelo Mundo disse...

Como é bom encontrar tiozinhos fofos assim, não? (tadinho do Rafa, que teve que pagar hahahaha) E adoro quando o espanhol entra nos seus textos, que nem em movimiento :-D
ah! só que não abre a foto pra mim... será só no meu computer messs? Bjs!

Bá Conti - publicitariaeviajante.blogspot.com disse...

Mari, pra mim abria normal...
Mas reinseri a foto anyway ;)
bj